Figurinha carimbada da cena musical brasileira, ele iniciou sua carreira profissional na extinta banda Heróis da Resistência.
De lá pra cá, trabalhou com dezenas de artistas como: Lobão, Paulinho Moska, Cidade negra, Zeca Baleiro e Engenheiros do Hawaii. Mas, foi como sideman na banda Kid abelha (onde permaneceu por mais de uma década) que ganhou grande popularidade. “Com o Kid Abelha se aprende o poder de um HIT”, Diz. Em 2002 ele lançou “Do nada ao Tudo”, seu primeiro Cd solo. No estilo Pop/Eletrônico, o trabalho contou com 11 faixas, uma delas a versão instrumental de “Retrato em Branco e preto”, sucesso do Chico Buarque. Três anos depois, lançou o albúm “O mundo está fervendo” que além das autorais, trouxe uma bela parceria com Leoni em “A noite é uma criança”. Seu mais recente trabalho “Trancado no quarto colorido” fala basicamente sobre relacionamentos amorosos com destaque para “Pingos e palavras” - Canção que seu irmão André Luis Barros fez em 1983. Cantor, Compositor, diretor, letrista, pianista, tecladista e produtor, Humberto Barros é o meu entrevistado da semana.
Priscila Toller : Quantos anos você tinha quando aprendeu a tocar Teclado e Piano? Foi influenciado por alguém?
Humberto Barros : Comecei a tocar tarde, por volta de onze anos flauta doce como disciplina na escola, e piano lá pelos 12, 13. Na verdade eu comecei a tocar o piano com segundas intenções mesmo, ou seja com a idéia de tocar rock’n’Roll com uma banda desde o princípio. Tinha a vontade de ter todos os sons ali à mão, ser o mago. Desde que nasci já ouvia os Beatles o dia inteiro porque meus tios adoravam e fui aprendendo a amar aquele som também. A partir dos nove, dez anos de idade comecei eu mesmo a ir completando a minha coleção dos 4 de Liverpool. Todos os dez primeiros discos que comprei na vida, com as economias do que eu –não- comia de lanche na escola foram dos Beatles. Sobre as influências, fui influenciado por vários artistas, afinal estávamos no final da década de setenta quando comecei a estudar piano e não faltavam tecladistas estrelas com Rick Wakeman, Keith Emerson (do Emerson, Lake & Palmer) e Jon Lord (Deep Purple). Mas o “empurrãozão” final foi quando vi aqui em terra Brasilis, ao vivo e a cores no palco a banda A Cor do Som . Pirei com o Mú ( Mú Carvalho) tocando e pela primeira vez entendi o que eu realmente queria fazer da vida. Depois disso foi só explicar para o resto de todo mundo.
P. T : Você começou profissionalmente a carreira na banda Heróis da Resistência. Como surgiu o convite?
H. B : Estávamos chegando para um ensaio, eu e a galera de uma banda instrumental que tínhamos na época, o ano era 89. O telefone tocou era o Galli, baterista dos Heróis que era amigo do baixista da nossa banda dono da casa onde estávamos ensaiando. Ele (Galli) perguntou para quem atendeu o telefone se ele não conhecia nenhum tecladista. Me passaram o telefone já brincando... “Quer tocar com os Heróis da Resistência?”, bem..... a partir desse dia as coisas foram sempre andando para o lado que havia programado, ser um músico profissional e tal. Hoje, olhando para trás penso em como a vida acaba mudando de trajetória em um segundo, só não temos como dizer antes de acontecer em que segundo ela vai mudar.
P. T : Como foi trabalhar com o Kid abelha por mais de uma década?
H. B : Foi maravilhoso, foi minha casa e uma incrível família por todo esse tempo. Com o Kid Abelha se aprende o poder de um HIT , e vou dizer , esse poder não é pequeno. Você vê aquela multidão se mover, pular e gritar por conta de uma canção, que não é feita muitas vezes nem para dançar especificamente. Sempre achei muito impressionante o papel da Paula ali na frente administrando aquela massa de gente. Aprendi muito sobre o “ser pop”, super ultra pop... Não é agressivo como o rock, e não é tolo. É pop, é sofisticado, musical e atinge um mundaréu de gente sem subestimar a inteligência dessa gente, muito pelo contrário, botando para cima o nível das coisas. Foi definitivamente uma das experiências mais incríveis da minha vida profissional esses anos com o Kid Abelha.
P. T : Em 2002 você lançou seu primeiro cd intitulado "Do nada ao tudo". Isso era uma desejo antigo?
H. B : Na verdade não era um desejo antigo não, o que aconteceu ali foi que exatamente eu não consegui realizar um desejo antigo, que por muitas vezes esteve perto, mas que não saiu. Era o desejo de lançar um disco de uma banda minha, não um trabalho solo. Eu entrei no negócio da música para formar uma banda e sair por aí tocando nossas músicas, e tive três bandas que se esforçaram muito para que isso acontecesse: Ursa Maior, Imagens do Mundo (hehe...nomes progressivos) e Mizifios, e que acabaram no quase. Nesse meio tempo fui tocando no trabalho de outros artistas, grandes artistas, e me desenvolvendo, mas sempre tentando colocar minhas bandas na boca do gol para as gravadoras. Em 2000 estava batalhando com a nossa banda Mizifios (Eu, Billy Brandão e Bruno Migliari) e a coisa parecia andar para trás. Foi quando tive um insight que quanto mais tentava botar o nome de uma banda para frente, o que estava indo para frente na verdade era o meu nome. Seria verdadeiramente mais simples se eu lançasse algo marcado com Humberto Barros na capa. E assim foi.
P. T: Como era conciliar sua carreira/shows com turnês grandes como foi o caso do Acústico Mtv Kid Abelha?
H. B : Minha carreira solo parava nessas épocas, mas como ela leva meu nome, acaba se beneficiando sempre que uma turnê dessas vai para a grande estrada, as notícias ficam fervilhando para todo mundo. E a Paula sempre falava dos meus discos quando me apresentava no final dos shows, principalmente do primeiro Do Nada ao Tudo. Sou muito grato a ela por isso. Aí está novamente um dos motivos pelos quais para mim foi muito mais lucrativo criar uma carreira solo: Tudo ajudava, inclusive as turnês do Kid Abelha.
P. T : Como é o Humberto Barros Produtor e Diretor?
H. B : Ainda um aprendiz engatinhando nas duas funções. Como produtor eu gosto muito de analisar como um psicanalista mesmo, (Risos) e entender o artista com quem estou trabalhando, e na verdade, aceitei pouquíssimas vezes essa função porque sempre precisei gostar absurdamente do trabalho da pessoa, pelo menos até o presente momento. Pode ser que consiga me distanciar mais no futuro, quando isso se tornar algo mais natural para mim, e - SE – isso vier a se tornar mais natural realmente. Dirigi um show esse ano e isso foi bem prazeroso. O show Doce Devassa da cantora e grande amiga Marília Bessy. Dividi essa produção com a atriz Cristina Prochaska que ficou mais focada na própria Marília, em sua atuação no palco e tudo. Eu resolvi mais as questões musicais. O resultado foi maravilhoso. Quero mais!
P. T : O seu mais recente albúm é o "Trancado no quarto colorido". Como foi o processo de produção?
H. B : Meus discos são compostos em longos períodos que normalmente têm início no dia seguinte em que lanço o anterior ou até um pouco antes com músicas que não participaram do anterior mas que já existem até mesmo gravadas, só não couberam no projeto. O que fica registrado no final é um ano e meio da vida ali em cada um. Porém acontece também que existe uma fonte que já está no secando que foi usada nesses três álbuns – Do Nada ao Tudo – O Mundo está Fervendo – Trancado no quarto colorido – que foi um disco demo que fiz só para mim e para uns dois outros amigos em 2000 e de onde sempre sai uma ou duas músicas em cada um desses álbuns. Na verdade foi uma época muito produtiva e sempre que voltava a essas músicas acabava gostando de alguma e colhia para que fizesse parte de um trabalho novo. E sempre casava bem. Mas só me restam duas músicas a serem usadas dessa fonte aí. E nem sei se será o caso daqui para frente. O Trancado no quarto colorido é o mais perfeitinho de todos para mim... Bem... É claro a gente sempre acha o último o melhor, e a crítica sempre acha que o seu melhor é aquele anterior ao que você está tentando mostrar que na época não foi bem entendido. O fato é que houve um aprendizado que foi culminando nesse álbum. E tem uma canção linda que meu irmão fez em 83 e que nunca tinha usado chamada Pingos e Palavras a qual gravei com meus companheiros da banda que tínhamos naquela época. Juntei a galera que são meus amigos até hoje, o Adalba que é um super cantor e o Valter Moreno , baixista e compositor da banda e mandamos ver. Está tudo no site que é o próprio disco online www.humbertobarros.com Sobre o processo, sempre gravo em meu estúdio e chamo alguns poucos amigos para gravarem junto, mas o fato de eu gravar muitos instrumentos sempre faz parte da onda toda. Me culpava por isso, pensava: Porque não monto uma banda e gravo tudo com os caras, mas afinal isso acabou se tornando uma característica nesse trabalho. Até os clipes fazem parte do processo todo, sem eles nem me sinto fazendo um disco.
P. T : Com tanto tempo na estrada Brasil a fora, já teve algum acontecimento engraçado em algum show que você fez (Solo ou com algum artista para qual tabalhou) ?
H. B : Várias e várias coisas, todos nós músicos somos verdadeiros catálogos de coisas curiosas para contar... e muitas para não contar. Se for para lembrar de uma... well, uma vez estávamos tocando, os Heróis da Resistência em um palco de feira de pecuária montado em um terraço que ficava na altura de um segundo andar de um prédio o público lá embaixo e o Leoni resolveu sentar apenas com uma das pernas no parapeito desse terraço que era como uma cerca de metal. A outra perna apoiada no chão para não perder o equilíbrio enquanto tocava o baixo, até aí tudo ok. Eu fui tocar alguma coisa concentradamente , abaixei a cabeça, olhando para as teclas. Quando de repente ouço um “Ó” da platéia e olho para frente vejo o Leoni seguro apenas pelas pernas dobradas como um trapezista de cabeça para baixo no trapézio ( que nesse caso era a cerca do terraço) segurando o baixo que apontava para o público ou para o chão porque ninguém queria ficar embaixo daquela “Lança de quatro cordas”. Dois roadies correram e trouxeram o nosso amigo para o lado de dentro do terraço novamente e o show continuou com aquele ar de “Isso aconteceu mesmo ou foi um rápido pesadelo?”. Coisas da estrada.
P. T : Em quê/quem você busca inspiração para escrever as letras das suas músicas?
H. B : Gosto muito de falar dos relacionamentos humanos e das individualidades. Tem muita gente que é muito boa em falar da coletividade. Não é o meu caso, falo de um ou de dois, três personagens já é recorde em músicas minhas. Por conta dessa característica acho que acabo tentando entender as mulheres através das minhas letras, a verdade é essa. E também entender esse jogo que existe entre duas pessoas que faz com que tudo pareça desencaixado a maior parte do tempo em muitos casais. Gosto do atrito entre as pessoas. Acabo escrevendo sobre os que estão a minha volta e sobre minha própria passagem sobre esse mundo. É uma mistura da minha experiência de vida com a vida dos outros, muitas vezes em um mesmo personagem.
(Por Priscila Toller em 15/08/2011)
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